Paulo Roberto Paixão Bretas
Presidente do Corecon-MG de 2017 a 2019

Chegamos a meados de setembro do ano da graça de 2019. Não há outra palavra para descrever o estado de desânimo e decepção com os rumos da economia no Governo Bolsonaro senão perplexidade. A sensação de estagnação, de não saída da crise, de lentidão e falta de alinhamento estratégico dos agentes de políticas públicas é grande. Afinal para onde caminha o projeto liberal? Aliás, será que existe mesmo um projeto liberal consolidado e pensado para a economia brasileira? Onde está a iniciativa privada que não vejo comparecer?

Para os estudiosos das ciências econômicas, um projeto de economia liberal seria capitaneado por quatro grandes eixos lógicos, dinâmicos e integrados: o primeiro seria de redução programada da participação do Estado na economia – mais Brasil e menos Brasília; o segundo relacionado ao primeiro, diz respeito às privatizações de empresas estatais, com a ampliação de licenças, PPP’s e concessões, facilitando a entrada de investimentos privados nacionais e estrangeiros; o terceiro seria o eixo da redução de impostos, taxas e contribuições que já atingiram a marca assustadora de 34% do PIB e por último, não menos importante, uma maior abertura comercial da economia brasileira, considerada uma das mais fechadas do mundo.

Outra palavra que começa a povoar o vocabulário econômico brasileiro é “bravatas”. Fala-se muito e age-se pouco. Vai vender tudo que puder, vai fazer “fast-track”, a reforma tributária vai ser maravilhosa, vai desonerar a folha, vai acabar com os gastos carimbados, tornando tudo discricionário, vai fazer novo pacto federativo e a reforma da Previdência resolverá todos os problemas fiscais. Quero ver a ousadia de se obrigar grandes bancos a fazerem seu “spliting”, ou seja, estão grandes demais para se ter um mercado competitivo, existe pouca oportunidade de quebra de oligopólios no mercado de dinheiro no Brasil e estes grandes bancos, que controlam todos os setores de poupança e empréstimo, devem ser subdivididos, proibidos de operar em todas as frentes, cada um deve ser repartido em dois ou três novos bancos, a exemplo do que os USA fizeram com a Bell Company, quando esta se tornou grande demais, num exemplo bem-sucedido de cumprimento das leis anti-trust. Quem segue ganhando no Brasil? O capital financeiro, seus acionistas e os rentistas. Investimentos de recursos no mundo da produção, da inovação e do progresso técnico, que possa nos tornar mais produtivos, independentes e competitivos, esqueça.

A eficiência e efetividade está no desmonte das políticas sociais, no assustador e rápido empobrecimento da população, enquanto as elites do atraso, nas palavras sábias de Jessé de Souza, seguem reconstruindo suas ideologias de dominação e ampliação do poder. Vejo crescer a intolerância, ampliarem-se as fraturas em nosso tecido social e vejo falida nossa soberania nacional. Enquanto coloca-se uma vez mais à mesa uma conta amarga para o povo pobre e humilde pagar, ludibriado em tenebrosas transações e discursos fanáticos e muitas vezes religiosos.

Mais um alto integrante do governo cai, e trata-se de Marco Cintra, um peixe grande, o maior defensor que conheço do chamado imposto único; e agora de uma nova CPMF, já abortada – será?

Até quando iremos nos alimentar de bravatas? Até onde irá este caos que se apossa da gestão econômica? Até onde o mercado tolerará a insegurança, o alto risco e o baixo crescimento? Até quando seguiremos com crescimento econômico pífio? Até onde o povo aguenta?

Verdadeiramente, não temos um plano de voo crível no campo da economia nacional! Nem mesmo um plano liberal factível.

Para onde caminha nossa economia, que se diz construindo um estado liberal?

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