O estado de Minas Gerais carrega em seu próprio nome uma história marcada pela exploração desenfreada de recursos naturais. Desde o século XVI, o território tem sido, em maior ou menor escala, cavado e escavado, recebendo o descaso e a degradação em troca de suas riquezas minerais, graças à ganância dos colonizadores, do poder público e de grandes e pequenas empresas, nacionais e internacionais.

Em consequência disso, seis anos atrás, em 5 de novembro de 2015, o Brasil assistia em seus noticiários, em choque e de mãos atadas, ao maior desastre ambiental de sua história, que ocorria em terras mineiras. Tratava-se do rompimento da barragem de rejeitos da Samarco Mineração S.A, em Bento Rodrigues, subdistrito da cidade de Mariana.

A tragédia afetou pelo menos 500 mil pessoas ao longo de 670 km de curso de água da Bacia do Rio Doce, deixando 62 milhões de metros cúbicos repletos de lama, 19 mortos, 700 desabrigados e um dano inestimável à fauna e flora da região, além da economia e do turismo, que jamais foram os mesmos.

Apenas três anos depois, em 25 de janeiro de 2019, a cena de terror se repetia, como se o primeiro ocorrido não houvesse deixado nenhuma lição. Dessa vez, a barragem da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, controlada pela empresa Vale S.A, rompeu-se causando a morte de 270 pessoas, tornando-se então o maior acidente de trabalho já ocorrido no país em relação ao número de vidas perdidas.

Os 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos despejados deixaram outras centenas de desabrigados, destruíram o circuito turístico de Veredas do Paraopeba junto a seus vários patrimônios históricos tombados, e logo encontraram a bacia hidrográfica do Paraopeba, cujo manancial de águas complementava o abastecimento de Belo Horizonte e cerca de cinquenta cidades da região metropolitana e entorno.

Em ambas as ocasiões, a população ribeirinha habitante das regiões atingidas, já desfavorecida pela própria construção das barragens em si, foi ainda mais prejudicada com o rompimento das mesmas. Além das evidentes perdas, as comunidades tiveram que conviver com a diminuição ou interrupção completa das atividades de pesca, agricultura e pecuária de subsistência, algumas de suas principais fontes de renda, impacto este que perdura até os dias de hoje. Não obstante, o Estado jamais ofereceu outras alternativas econômicas e de trabalho a essas pessoas.

Tendo sofrido com esses fatídicos acontecimentos, praticamente ignorados pelos responsáveis e pelo poder público, a população de Minas Gerais encontra-se extremamente apreensiva com o contexto vivenciado no início de 2022, marcado por uma série de enchentes, desabamentos, deslizamentos, perdas materiais e de inestimáveis vidas humanas, em consequência não apenas das chuvas, mas da recorrente negligência do Estado, de um péssimo planejamento urbano, da falta de investimento em infraestrutura e, sobretudo, da impunidade.

No início de 2020, temporais igualmente devastadores assolaram a região, resultando em sérios danos estruturais, mais de 50 mortes e quase 20 mil pessoas sem residência. Assim como no caso das barragens, em um curto período de tempo, o cenário se repete sem que nada de eficiente seja feito para impedi-lo. Agora em 2022, com 374 cidades em emergência, Minas Gerais já contabiliza quase 27 mil desalojados e 25 mortos desde o início das tempestades deste ao.

Em Capitólio, banhistas foram atingidos pelo deslizamento de rochas do cânion do Lago de Furnas; em Ouro Preto, o casarão colonial Solar Baeta Neves, construído no século XIX, foi soterrado devido a um deslizamento, somando mais uma imensurável perda de um patrimônio histórico; enquanto em Nova Lima, o transbordamento de um dique de contenção da Mina de Pau Branco, da empresa Vallourec, inundou a BR-040 e provocou medo de mais uma tragédia.

Com os níveis de chuva acima da média histórica, outras 36 barragens de rejeito de minério em Minas Gerais encontram-se em situação de emergência, sendo que três delas já estão no nível 3, quando o rompimento é iminente ou está em curso. São elas: Forquilha III, em Ouro Preto; B3/B4, em Nova Lima; e Sul Superior, em Barão de Cocais; todas operadas pela Vale S.A e próximas a cidades que, juntas, têm população estimada em 255 mil pessoas.

Em contexto já desfavorável, ainda lidando com as consequências da pandemia e tentando reconstruir-se em meio ao caos provocado pelas tempestades, Minas Gerais encontra-se, mais uma vez, vulnerável a catástrofes já conhecidas, mas que parecem estar longe de serem evitadas, tendo em vista que também já é de praxe a omissão do poder público em suas três esferas, em nível municipal, estadual e federal.

Com profundo pesar pelos trágicos acidentes e incidentes ocorridos, o Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG) se junta à corrente de solidariedade aos mineiros afetados, ato necessário para reduzir a dor, a desesperança e o sofrimento de milhares de famílias. A autarquia também permanece, enquanto entidade representativa da classe profissional dos Economistas, comprometida com a promoção de estudos e reflexões que possam mitigar, na esfera econômica e humana, os impactos negativos dos infortúnios supracitados.

Nota do Corecon-MG sobre mineração predatória, chuvas e desastres ambientais em Minas Gerais

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *