Nota técnica do Ministério da Economia diz que dados “reforçam a tendência de crescimento do PIB privado em substituição do setor público”

A separação de Produto Interno Bruto (PIB) do setor privado e PIB do setor público, feita pelo Ministério da Economia para analisar o crescimento de 1,1% da economia brasileira em 2019, virou alvo de debate entre economistas: parte deles defende que esse tipo de divisão não é cabível.

Em uma nota técnica divulgada nesta semana, o governo comemorou “uma melhora substancial” da composição do PIB, “com aumento consistente do crescimento do PIB privado e do investimento privado, de forma que a economia passa a mostrar dinamismo independente do setor público”.

De acordo com a nota, o aumento de 1,8% no consumo das famílias e de 2,2% dos investimentos, acompanhado da redução de 0,4% dos gastos do governo, “reforçam a tendência de crescimento do PIB privado em substituição do setor público”. O texto diz, ainda, que, enquanto em 2018, o investimento público cresceu acima de 9%, houve retração superior a 5% no ano passado.

A pasta afirma que o PIB privado subiu 1,81%, enquanto o PIB público caiu 1,11%, segundo dados de 2019 acumulados em 12 meses até o terceiro trimestre. “Os resultados melhores do setor privado são reflexos da política econômica que foca no aumento da produtividade, corrigindo a má alocação de recursos e fortalecendo a consolidação fiscal”, diz na nota.

Para a economista e conselheira do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais, Pâmela Sobrinho, não existe fundamento teórico para essa divisão. Ela lembra que, para o cálculo do PIB, o IBGE considera, na demanda, o consumo das famílias e do governo, os investimentos públicos e privados e as exportações e importações. Na oferta, considera a a agropecuária, a indústria e e os serviços.

“No cálculo feito pelo governo, ele olha somente a demanda, não inclui a oferta. Quando a Caixa Econômica Federal empresta dinheiro para uma construtora privada construir apartamentos, isso contabiliza no PIB de quem? É uma divisão muito complexa”, afirma Pâmela. “Esse cálculo não condiz com a verdade e não explica o resultado pífio do PIB brasileiro”, conclui.

O diretor da Instituição Fiscal Independente, do Senado, Felipe Salto, diz que a metodologia utilizada pelo governo não é usual, mas plausível: “Ela é complementar e não anula a análise de que o PIB ainda foi muito baixo e que o governo precisa fazer algo para se recuperar de forma expressiva”.

Reportagem: Rafaela Mansur
Fonte: Jornal O Tempo

Economistas divergem sobre divisão de PIB público e privado adotada pelo governo
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